30.9.09
inspirada em um texto sobre a vó do cardoso, perdido no meio de um querido diário, resolvi contar aqui uma boa da minha mãe, apenas para lembrar que o mundo pode ser engraçado, e não só feito de pessoas que batem no nosso carro e não querem pagar, mecânicos e homens enrolões e chuva eterna em porto alegre.
mas vamos aos fatos. a mãe nunca andava de ônibus, mesmo com a vó morando no centro, o que torna uma simples visita um martírio completo em busca de uma vaga. em uma certa feita, ela resolveu se aventurar na linha 493 que atravessava a protásio alves do meio para o começo e para(va?) no mercado público.
uma vez no ônibus, cometeu o erro maior dos leigos: aboletou-se na janela. no meio do caminho, um homem visivelmente alcoolizado e andrajoso sentou-se ao lado. numa provável mistura de cansaço e trago, o homem logo pega no sono.
no balancinho do coletivo, ele se aconchega pra perto da mãe, que encolhe seu 1,55m e 50 quilos na janelinha. mais balanço, e o homem encosta a cabeça no ombro dela, que não consegue reagir e aceita a companhia. com mais sacolejo e encorajado por não ter sofrido resistência, o bêbado - que estava carente - estica o braço pra ficar de conchinha com a mãe. aí ela finalmente resolve reagir. tira o braço dele delicadamente e diz "assim também não, né, senhor!"
eu queria ser um poema no ônibus pra ter visto essa cena.