uma pequena parábola

15.5.10

há alguns dias, cheguei de madrugada em uma lavagem 24 horas (que anuncia em um pequeno cartaz "lava-se carros, bota-se PIERCING"), repleta de motoristas de táxi, querendo eliminar um pequeno acidente causado por regurgitação do banco do carona.

estacionei e o lavador de plantão foi extremamente bem educado. expliquei o acidente e ele perguntou se era para limpar só o vomíto (assim mesmo, com o acento no i). argumentei que já que estava ali, e sem sono, poderia ser a lavagem completa. porém, me dei conta de que estava absolutamente sem dinheiro - horas antes, tentei sacar algum em um caixa eletrônico do banrisul, que estava estragado. antes que o rapaz pusesse os baldes e esponjas em ação, achei por bem comentar que não reunia a quantia necessária para o banho do palio, mas que deixaria MEU CARTÃO DE VISITA (que ideia) com meu celular e que no dia seguinte bem cedinho voltaria ao local com o dinheiro.
o responsável pela lavagem disse que não haveria problema, no entanto precisaria consultar o patrão. ligou para o proprietário, que foi categórico: nem pensar. "se fosse por mim dona não tinha problema nenhum", se desculpou. nada mais me restou fazer, a não ser manobrar o carro e partir, com as janelas abertas na madrugada geladinha de porto alegre.
no dia seguinte, tinha uma reunião com um possível cliente pela manhã. joguei um pano sobre o acidente, que curtiu a noite toda no quentinho do carro. após a reunião, fui a uma segunda lavagem. "vômito, é?" comentou o lavador. "sim, mas, em minha defesa, não me pertence", argumentei. (não que nunca o tenha feito. certa vez, entrei em um táxi, vomitei sobre mim mesma e apaguei imediatamente, antes mesmo de dar o endereço. quando acordei, o motorista tinha dado umas 30 voltas no quarteirão, com o taxímetro rodando. saiu barato).
o lavador me alertou que poderia ser necessário retirar o banco, citando um exemplo: "uma vez uma mulher veio aqui e disse que o sobrinho tinha mijado no banco. mas quando fui ver era mijo de velha e tivemos que tirar o banco pra lavar". achei adequado e o autorizei caso fosse necessário. o carro foi lavado (eles esqueceram o cinto, mas eu mesma resolvi) e hoje cheira à essência mais artifical de morango já produzida.
não sei que lição esta história encerra. mas ide em paz e que o senhor vos acompanhe.

12.4.10


é assim a nova sede - a chamada PRIMEIRA - da Cartola - Agência de Conteúdo. como diz o tião, parece que a gente está numa cadeira da fabico. não por amadorismo, porque já somos putas véias. mas pelo clima de expectativa, de realizar um sonho, de reunir gente que se gosta e se completa.

é aí que eu to escrevendo por dinheiro e por prazer. e bem melhor do que eu desenho, juro.


me deu uma vontade louca de passar um paninho no blog hoje, só pra tirar o pó.


notas comezinhas

22.11.09

entrei no blogger, saí, entrei de novo, saí e eis-me aqui numa (provável) infrutífera tentativa de voltar a escrever com alguma regularidade.


tenho muitos assuntos comezinhos pra falar (afinal, é disso que trata esse blog e, em última instância, a vida toda), como a oficina que consertou meu carro mas não testou os pisca-piscas. isso já faz três ou quatro semanas e ainda não tive a paciência necessária pra voltar lá e forçá-los a consertar. portanto, faça chuva ou faça sol, tiro o braço para fora da janela toda vez que quero dobrar ou trocar de pista. por um bom tempo, só conseguia virar à esquerda, porque achava extremamente complexo colocar o braço pra fora pela janela direita na tentativa de sinalizar. até que o tião me ensinou como faz: basta formar um pescoço de cisne com o braço direito e apontar para cima do teto do carro. eu nunca vi alguém utilizar essa sinalização, mas o mais surpreendente é que todo mundo parece entender do que se trata.

outra possibilidade pode ser falar da minha atual intolerância ao álcool, depois de metade da vida bebendo regularmente ao menos aos fins de semana. em vez de uma porção de amendoins, o que acompanha qualquer copo de cerveja que eu beba é dor de cabeça e azia mortais. lado bom: é muito econômico sair e tomar refri ou água. o lado ruim é que perde 75% da graça do bar. ainda estou planejando o que fazer.

começo a pensar que a minha incapacidade de escrever, a demora em mandar consertar o carro e a enrolação em verificar do que se trata meu problema com a bebida são fatos interligados demais.... melhor escrever mais sobre isso em uma outra hora.

meu home-office

16.10.09

noto uma tendência crescente em blogs: colocar um minitexto e mil fotos.

como eu não tenho paciência pra catar fotos, dificilmente vou fazer isso. e como estou sem inspiração para textos, a coisa está osca para o lado deste blog.

estou trabalhando em casa, o que torna a minha vida - pauta do blog - meio sem aventuras pra contar. comecei meu home-office com o note na cama, os dois telefones do lado de uma caneca de toddy light, as costas apoiadas em dois travesseiros e duas almofadas e a tevê ligada na caverna do dragão.

a dor nas costas me fez pensar em uma minirreforma. retirei um gaveteiro do quarto, o que implicou me desfazer de umas bizz da década de 90, umas revistas de quadrinhos pornográficos que têm dedicatórias de um amigo pra mim, por alguma razão que desconheço e outros badulaques.

instalei uma prateleira para apoiar o note, ficou lindona e espaçosa.

agora, quando eu entro no quarto, largo todas minhas roupas ali, na prateleira. e continuo trabalhando na cama, que a prateleira tem sem espaço pro note.

madre

30.9.09

inspirada em um texto sobre a vó do cardoso, perdido no meio de um querido diário, resolvi contar aqui uma boa da minha mãe, apenas para lembrar que o mundo pode ser engraçado, e não só feito de pessoas que batem no nosso carro e não querem pagar, mecânicos e homens enrolões e chuva eterna em porto alegre.

mas vamos aos fatos. a mãe nunca andava de ônibus, mesmo com a vó morando no centro, o que torna uma simples visita um martírio completo em busca de uma vaga. em uma certa feita, ela resolveu se aventurar na linha 493 que atravessava a protásio alves do meio para o começo e para(va?) no mercado público.

uma vez no ônibus, cometeu o erro maior dos leigos: aboletou-se na janela. no meio do caminho, um homem visivelmente alcoolizado e andrajoso sentou-se ao lado. numa provável mistura de cansaço e trago, o homem logo pega no sono.

no balancinho do coletivo, ele se aconchega pra perto da mãe, que encolhe seu 1,55m e 50 quilos na janelinha. mais balanço, e o homem encosta a cabeça no ombro dela, que não consegue reagir e aceita a companhia. com mais sacolejo e encorajado por não ter sofrido resistência, o bêbado - que estava carente - estica o braço pra ficar de conchinha com a mãe. aí ela finalmente resolve reagir. tira o braço dele delicadamente e diz "assim também não, né, senhor!"

eu queria ser um poema no ônibus pra ter visto essa cena.

que atire o primeiro molar quem não posterga

12.9.09

ocorre que agora estou tomando três remédios diferentes por conta de uma infecção no dente por puro espírito de "amanhã eu resolvo".

há coisa de uns 15 dias, parte de uma obturação caiu. não dei atenção, e dois ou três dias depois, começou a doer de um jeito que só um dente é capaz. numa sexta-feira, 19h, fui num dentista 24 horas, que abriu o dente depois de cinco anestesias, colocou um medicamento tópico e um algodãozinho e disse: "segunda-feira marca uma consulta pra fechar esse dente".
só que esse pequenino procedimento fez com que a dor parasse. resultado: de demanda urgente, passou a pouco urgente. eu só ia trocando o algodão quando escovava os dentes para fechar o buraco e pensava "bá, tenho que ver isso".
aí, de novo, nesta sexta-feira, saio de um almoço quase que comemorativo com um amigo quando, esperando pelo carro no estacionamento, saco de um chiclete e mastigo. ele deve ter encostado em algum lugar macabro, porque o dente e arredores começaram a pulsar como um coração apaixonado.
por motivos óbvios de vergonha e humilhação, não quis ir ao mesmo dentista que abriu o buraco - não precisava levar um sermão ainda por cima. então, fui em um na benjamim constant que atende emergências. fechado. sigo mais adiante na cristóvão, não havia mais nada. volto para a assis brasil, paro no primeiro que encontro: só trabalham com aparelhos ortodônticos.
nessa altura, duas horas depois da primeira fisgada, já estava considerando a hipótese de pedir a um transeunte que me desse um murro bem colocado no rosto, para que, se o dente não caísse, pelo menos eu desmaiasse. aí, me ocorreu uma clinicazinha na joão pessoa, bem pertinho do JC, entre um mercadinho e um brique, à primeira vista não muito animadora.
mas a dra. paula, um amor de dentista, examinou, constatou que a minha preguiça e relaxamento se transformaram em uma infecção e um tratamento de canal e começou os trabalhos imediatamente, tirando com a mão a dor e me dando este tanto de remédios para tomar. porém, com a consulta já marcada para segunda-feira, 13h30, sem chances de procrastinação.
a lição? só veio à noite, quando, em um tradicional aniversário regado a chope de primeira de um diletíssimo amigo, bebi meio litro de coca-cola.

mc gayver

9.9.09

não lembro se já comentei aqui que a minha mãe não é uma grande cozinheira. também fica dias sem me ligar quando eu ou ela viajamos. não é de dar beijinhos, nem abraços. mas a minha mãe é o mc gayver. para se ter uma ideia, provavelmente o melhor presente de dia das mães que já dei a ela foi uma furadeira.


estou há uma semana sem conseguir carregar a bateria do notebook porque o fio do carregador estava quebrado em algum lugar e ele não funcionava. hoje, comentei com ela que ia ter que comprar outro e marchar em 200 pilas.

uma faca de serrinha, um pedaço de fita isolante e minutos depois, eis-me aqui, escrevendo no note. bonito não ficou, mas funciona que é uma beleza.