a vida é uma sinfonia agridoce*

31.10.08

- deixei para o último instante do último segundo do último minuto para levar o carro na revisão dos 30 mil quilômetros. a fábrica dá mil quilômetros de tolerância. larguei na concessionária com o odômetro marcando 30.999 quilômetros.

- por não saber qual ônibus pegar, subi a cristiano fischer a pé e fui pra academia. só uns 4 quilômetros, mas que íngremes! a véia tá mal.

- sabe quando tu pensa que tá quase quase quase? e aí toma um balde de água fria por cima? e não entende por que e até acha que é maluca? e depois entende por que? pois é.

- atropelei um chapéu de bruxa e fiz uma criança infeliz hoje. mas era ela ou eu.

- e por último, mas não menos agridoce: amanhã vou pro rio. mas a previsão do tempo promete chuva.

*tradução livre de filipe maia

fobia do F5

28.10.08

vez ou outra, acho que todo mundo que conheço padece de medo do e-mail. um cagacinho de dar F5 e vir aquele mail com uma resposta que tu não queria ter. como com frila novo: "qualquer problema com a matéria, avisa". e aquele frio na barriga de chegar um mail "QUE QUE É ISSO, TÁ TUDO ERRADO", mesmo que nunca tenha acontecido. aí dá vontade de fechar o mail e nunca mais abrir e deixar aquele mail em bold pra sempre.

hoje, depois de semanas, tive um ataque de sinceridade com um amigo de longa data. não contarei detalhes, eu não sou a luana piovani. e, se por um lado estou aliviada de finalmente ter tirado um peso dos ombros, por outro vou passar o dia apavorada com meu mail.

perguntas intrigantes do fim de semana

26.10.08

- por que chove sem parar enquanto estou de folga?

- por que penso "vou beber até perder os critérios" e, quando estou prestes a perdê-los, fico sóbria em um passe de mágica? (se descobrir a resposta pra essa, posso engarrafar e vender contra a lei seca. mas isso não é uma reclamação, viu, papai do céu? mantenha-me os critérios.)

- por que a festa que escolhi tava pior que a que deixei passar?

e por último, mas não menos importante:

- por que quando o sol finalmente apareceu é meu plantão?

declaração pública

25.10.08

não consigo mais me controlar. nem cheguei aos 30 e já estou desgovernada. exemplifico.

na terça, no bar, a comida demora muito a chegar. quando chega, peço que o garçom junte-se a nós. ele estranha.
- fica aqui pra cantar parabéns pro prato, pela demora, acho que ele está completando um aninho!

na saída do mesmo bar, dirigindo, um carro insiste em me fechar. eu insisto em não permitir e em não perceber que: 1. é madrugada; 2. não tem ninguém na protásio; 3. é um monza véio. o cara bota a cabeça pra fora da janela e me xinga. mesmo contra todo o bom senso, faço cara de deboche e fico dizendo "blá, blá, blá" até que ele desiste de mim e sai cantando pneu.

mesmo ficando a cada ano que passa mais ingovernável, não temo um futuro de solidão. a lari conta que uma tia muito querida, figuraça, já velhinha, foi para um lar geriátrico. lá, encontrou uma amiga de muitos anos. dirigiu-se a ela, sorridente, e a primeira pergunta foi:
- tu estás lúcida?

não sei qual de nós duas irá pra lá primeiro. provavelmente eu, já que ela é um ano mais novinha - completa hoje 28 primaveras. mas estarei esperando com meu crochêt, nega. te amo ever.

23.10.08

a gente sabe que está cansada quando, presa em um engarrafamento, fica olhando por uns dez minutos para um intrigante cartaz de folha ofício colado em um poste escrito "URSOS". o que pode querer dizer? o que seriam as letras menores? quem teria feito isso?

só quando cheguei bem pertinho, vi o óbvio. a pontinha esquerda que tinha a letra "C" tava rasgada. chato como a vida pode ser sem graça de repente.

epopéia de fim de semana

14.10.08

há famílias que se unem na dor. outras, nos momentos felizes. há outras ainda, essas mais raras e chatas, que sempre são unidas, e estão só nas propagandas de margarina.

e há a minha, que se uniu no sábado, em torno de um bem comum. o assassinato de um rato.

não são freqüentes os ratos na minha casa. na verdade, eles (digo eles porque agora já foram dois) começaram a surgir há três anos, desde que a preta veio pra cá. suspeito que a ração seja a culpada, já que encontramos na toca do roedor um punhado equivalente a um belo prato de beneful (80 reais o pacote de 10 quilos, trata-se de um rato bem alimentado) e um OSSO (assim, já se pode ter uma idéia do tamanho do rato, não quero ilustrar esse post).

enfim, ficamos de tocaia, assim dispostos no quintal, onde o rato se localizava: meu pai com um pedaço de pau, minha mãe de vigília e eu e minha irmã de galochas (vá que o rato saltasse) do lado de dentro da cozinha e de porta fechada, apenas vigiando para o caso de o rato passar. a preta, que aparentemente se afeiçoou ao rato e convivia com ele há alguns dias sem caçá-lo, foi banida do pátio.

isso durou algumas dezenas de minutos de tensão. eis que minha irmã vê o rato descendo por uma parede e grita. minha mãe abandona o posto de vigília e sobe em uma mureta. meu pai tenta espancar o rato a pauladas e acaba conseguindo alcançá-lo, mas não a ponto de matá-lo. o rato se esconde no motor de máquina de lavar roupas. permaneço inútil e de galochas. sangue no quintal.

não há jeito de espantar o rato para fora da máquina. minha mãe dá a sentença impedosamente:

- liguem a máquina.

pior barulho do mundo. sangue escorre pelo chão. meu pai deita a máquina no pátio. finalmente vejo o rato. ou o que sobrou dele.

confesso que fiquei com pena. mas só depois de morto e colocado no lixo. e a máquina de lavar, depois de bem lavada, voltou a lavar.

perolinha da força de vontade

7.10.08

já comentei no blogui da lari que, na falta de outro doce qualquer, comi leite ninho e água com açúcar batidinho na xícara e fica parecidinho com leite condensado. não me orgulho, pelo contrário. acho essa dependência de doce uma coisa extremamente deprimente.


o que me consola é a explicação genética, não lembro se já contei aqui, aos 29 marcho inexoravelmente para a desmemória. pois bem. para exemplificar, cito que meu pai apostou com meu tio, na juventude, em rio grande, que tomaria, no bico, uma lata de leite moça, sem parar. e ganhou. o prêmio? outra lata. e que de outra feita, esta há pouco tempo, mãe comprou uma barra de chocolate de cobertura para fazer um doce e escondeu na gaveta de verduras da geladeira. e meu pai, com faro para açúcar similar ao das formigas, encontrou e mandou ver, mas deixou a embalagem certinha ali dentro. quando foi a hora de fazer o doce, só restava o papel.

nesta semana, corneteando a mim, que reclamava de ter de comer carne e salada todo sacrossanto dia, e à minha mãe, que fuma, ele disse que nenhum vício o controlava. fiz uma aposta, que consistia em uma semana sem pôr doce na boca. não durou 12 horas, com sobremesa na janta, com a desculpa de que na quinta ele faz aniversário e que não faria sentido sacrificar-se se perderia o jogo logo ali. tentarei de novo na semana que vem.

hoje estou tentando me controlar mais, porque a juventude vai-se indo e a barriga vai ficando e as opções não são muitas. mas nada de radicalismos. porque o que é de gosto regala a vida, e afinal de contas, doce é bom, ch. mas hoje, na academia, ouvi uma menina, que era minha contemporânea de santa inês, comentar que fazia DOZE ANOS que não punha um doce na boca. ante a minha incredulidade, ela emendou: "ah, eu como granola..."

ser gostosa pra caralho tem preço. mas ele é caro demais pra mim, definitivamente.