epifania

5.11.08

querido diário,

sábado - acordei às cinco pra pegar um vôo às 6h40. só que em vez de usar a função soneca, desliguei o despertador. resultado foi acordar às 6h15 e achar que dava. claro que não deu e embarquei 9h30, achando que essa seria a última vez na vida que eu ia ser eu e deixaria que esse tipo de mangolice me acontecesse.

corta.

terça - preparada para embarcar às 17h30, do outro lado da cidade, acordei 7h, arrumei mala, fiz check out no hotel, levei minhas tralhas pro evento para ganhar tempo. o resultado é que quatro horas da tarde estava na fila do check in da gol, falando (ouvindo falar) mal da empresa com um tiozinho de recife.
na minha vez, cadê o documento? viajo sempre com o único documento que ando na vida, que é a carteira nacional de habilitação. com toda a calma e tempo, me ofereço pra ficar catando o documento no ladinho enquanto a moça atendia outras pessoas. esvaziei a bolsa. esvaziei a mochila do note. esvaziei a mala e revirei os bolsos das roupas. nada.

oficial. seiláeo cadê minha carteira de motorista, não a via desde sábado. podia estar em qualquer lugar. assim, a moça da gol (que incentivava minha procura "olha nos bolsos, neguinha"; "já viu na agenda?") disse que eu teria de fazer um B.O. e ir à Anac.

toc, toc, toc. comentei que usava um salto 15? atravessei o galeão. na delegacia, pegando meus dados, a atendente loira, cujo carpete certamente não combinava com a cortina, avisa que o B.O. fica pronto em um dia útil. primeira vontade de chorar ante a possibilidade de uma noite vibe tom hanks. mas engulo. e remexendo na bolsa, lembro que tem uma nota fiscal do hotel com telefone.

ligo pra lá e eis que eles realmente encontraram minha carteira de motorista. anoto mentalmente que nunca mais vou me organizar pra sair cedo de um hotel na vida. vejo que já são 16h30. o hotel é o do outro lado da cidade. peço para o moço que me atende colocar o documento em um envelope e despachar por táxi, não sem antes me passar o celular do motorista. desligo o celular e as mocinhas da delegacia vibram comigo.

toc, toc, toc, volto ao check in da gol. explico que o documento vem vindo. a mocinha que me atende diz que pode despachar minha mala provisoriamente. mas que o taxista tem que chegar até 17h. ligo pra ele, o seu euclides. preso em um mega engarrafamento longe paca do aeroporto. segunda vontade de chorar. aí, não deu. ligo pra minha mãe e choro no saguão do aeroporto. ela me acalma.

vou na loja da gol pra ver que horas tem outro vôo. ruim: nove e meia. pior: 400 reais a mais na tarifa. resolvo apostar nas habilidades do seu euclides.

e aí começa a briga contra o relógio, que insistia em passar rápido. não vou conseguir descrever a agonia, mas nem precisa. é só lembrar, todo mundo já passou por isso. o fato é que comi todo o esmalte e depois os dedos, o seu euclides chegou às 17h30 em ponto, dei 50 pilas pra ele de gorjeta (fiquei em dúvida: pouco?), a mocinha da gol que não sei o nome liberou a minha entrada, cheguei correndo no portão de embarque e fui a última no avião.

tudo isso pra explicar porque achei as nuvens tão fofinhas lá de cima desta vez. e porque tirei uma foto e tudo.


8 comentários:

Gina disse...

Clarissa, ha alguns dias leio seu blog e fico na torcida para vc ter postado alguma coisa cada vez que entro no blog. Você escreve e descreve tão bem as coisas que eu acho que vc não é só uma boa escritora: vc é uma cineasta, uma 'filme maker', uma roteirista . . . eu não sei ainda definir. Mas sei que é necessário muito talento pra escrever do modo tão enxuto e tão vivo como vc escreve. Parabéns.

Anna Martha disse...

Ahahhaahha. MUITO mongolona. Coisas que a minha mãe faria.

maria paula letti disse...

carpete com cortina, adorei! ai, clá, tu me mata de rir!!!

clarissa disse...

gina, isso foi disparado a coisa mais legal que alguém já me disse, mas não se engane: não sou eu, são as coisas que acontecem que são bizarras mesmo.

maria paula letti disse...

gina, concordo contigo. e mais, não sei se tu sabe, mas a clá não só escreve. ela FALA assim. é genial ;)

Gina disse...

Clarissa, não só eu leio o que vc escreve, como também interpreto. Faço o meu melhor sotaque portoalegrense e conto a história do rato e das galochas ou de outros textos seus como aquele sobre sua avó em que vc diz: epa, epa, epa.. Vc tem o dom de nos fazer enxergar o que vc escreve.
Um beijão.

Anônimo disse...

RASGUEI A ALMA com essa do carpete e da cortina.

E sim, teu blog eh um dos melhores de se ler. EVER.

(ok, esse EVER foi UBERGAY, mas foi por uma boa causa)

Joelma Terto disse...

Clarissa Barreto, você não é uma mulher, é um CASE (não a mala, um CASE DE SUCESSO, boba). Sim, eu também caí da cadeira com o tapete e a cortina. E roí as unhas e o esmalte com você lendo esse post genial.